FEVEREIRO DE 1959, MONTANHAS URAL, RÚSSIA. NOVE ESQUIADORES DESAPARECIDOS ENCONTRADOS MORTOS. CAUSA: DESCONHECIDA
A história parece ter saído de um filme de terror de baixo orçamento: nove jovens estudantes saem em um feriado para esquinar na montanha Ural, localizada na Rússia, mas jamais voltam. Eventualmente, seus corpos são descobertos – cinco deles congelados até a morte perto de suas barracas, e os outros quatro com lesões misteriosas – uma cabeça amassada, uma língua arrancada – enterrados na neve em um lugar não muito distante. Todos, pelo que parece, fugiram em um terror repentino do seu acampamento no meio da noite. Deixando para trás esquis, comida e roupas quentes, eles correram por uma encosta de neve em direção a uma densa floresta, onde eles não tinham nenhuma chance de sobreviver, com temperatudas de -30ºc.
Na época, os investigadores confusos ofereceram a não-explicação de que o grupo tinha morrido como resultado de uma “força irresístivel desconhecida” – e então simplesmente fecharam o caso e arquivaram como “Top Secret”. Depois de quase um século, o mistério continua. Qual foi a natureza da mortal “força desconhecida”? Foram as autoridades soviéticas escondendo alguma coisa? E, nesse caso, o que exatamente eles estavam tentando encobrir? Nos anos seguintes, uma série de soluções foram apresentadas, envolvendo tudo, desde tribos hostis e o abminável homem das neves, até aliens etecnologias militares secretas.
“Se eu tivesse a chance de fazer a Deus uma única pergunta, seria: O que realmente aconteceu com meus amigos naquela noite?” diz Yury Yudin, o décimo membro da fatídica expedição e o único sobrevivente. Yudin adoeceu e resolveu voltar alguns dias depois do começo da viagem. O destino de seus amigos permanece um mistério doloroso – um que ele tentou investigar por si próprio.
A EXPEDIÇÃO
Yudin e seus nove companheiros começaram sua jornada em 23 de janeiro de 1959, tendo como destino a montanha Otorten, no norte das Urals. Ele e oito dos outros eram estudantes do Instituto Politécnico de Ural, em Ekaterinburg, localizado na região da Sverdlovsk, 1,900km a leste de Moscow.
Naquela época, a cidade ainda era chamada de Sverdlovsk, e é lembrada principalmente como o local onde Czar e sua família foram brutalmente assassinados após a Revolução Russa (seu nome foi dado após o líder do partido bolchevique, Yakov Sverdlov, que teve um papel nos assassinatos). Em 1959, a União Soviética estava no meio de um degelo das sortes. Após décadas de repressão stalinista, a vida sob o novo premier, Nikita Khruschev, estava se tornando um pouco mais livre. A década de 1950 viu, por um lado, uma explosão do “turismo esportivo” na Rússia, enquanto o país começava a afastar-se da austeridade do pós-guerra. Uma mistura de esquis, caminhadas e aventuras, o turismo esportivo era mais do que uma simples atividade esportiva da União Soviética – para os habitantes daquela sociedade fechada e regimentada, era uma maneira de escapar das restrições da vida cotidiana, de retornar à natureza, e de passar tempo com um círculo de amigos próximos, longe dos olhos curiosos do estado. Tais atividades foram muito populares com os estudantes, que partiam em longas viagens a algumas das partes mais selvagens e remotas da União Soviética.
O grupo do Instituto de Politécnica de Ural era formado por membros experientes do clube de esporte desportivo da faculdade, liderado por Igor Dyatlov, de 23 anos, respeitado por ser um expert em esquiar e montanhismo através do país. Sua rota para Otorten, que alcançaria alturas de 1.100 m acima do nível do mar, foi classificada como “Categoria III” – a mais perigosa para aquela época do ano – mas a experiência combinada dos estudantes significava que não havia nada de incomum na escolha da expedição.
Além de Dyatlov e Yudin, o grupo era composto por Georgy Krivonischenko (24), Doroshenko Yury (24), Kolmogorova Zina (22), Slobodin Rustem (23), Nicolas Thibeaux-Brignollel (24), Dubinina Ludmila (21), Alexander Kolevatov (25) e Alexander Zolotaryov (37). Todos eram estudantes do Instituto, exceto o mais velho, Zolotaryov – que, pelo que algumas fontes sugerem, era uma figura um pouco estranho a quem Dyatlov foi inicialmente relutante em aceitar na expedição. Mas Zolotaryov provou-se um turista esportivo altamente experiente e veio com uma recomendação de alguns amigos de Dyatlov.
Assim, em 23 de Janeiro, o grupo de 10 partiu naquilo que deveria ser uma viagem de três semanas através do país. Eles viajaram de trem para Ivdel, chegando em 25 de Janeiro, e depois, de caminhão para Vizhai – a última colônia habitada antes do deserto coberto de neve entre eles e Otorten. Eles começaram sua jornada em 27 de Janeiro. No dia 28, entretanto, Yudin ficou doente e teve que voltar, deixando o grupo de nove para continuar sem ele. Foi a última vez que ele viu seus companheiros vivos. O curso dos acontecimentos após a saída de Yudin só pode ser reconstruído a partir dos diários e fotografias deixadas pelo resto do grupo e recuperados a partir da área onde eles fizeram seu último acampamento.
Depois de deixar Yudin para trás, o grupo esquiou em todas as áreas desabitadas e lagos congelados, seguindo os caminhos da tribo indígena local, os Mansi, por mais quatro dias. Em 31 de janeiro, chegaram ao rio Auspia, onde montaram uma base, deixando o equipamento e comida lá para a viagem de regresso. A partir dali, em 1º de fevereiro, eles começaram a subir o caminho em direção a Otorten. Por qualquer razão – mais provável más condições meteorológicas, fazendo com eles se perdessem – eles se encontraram nas encostas da montanha Kholat Syakhl, a uma altura de pouco menos de 1.100 m. Lá, em torno das cinco horas da tarde, eles armaram suas barracas para a noite – apesar de que, se descessem apenas 1,5 km, poderiam ter encontrado um abrigo bem mais seguro em uma floresta.
Os últimos trechos de seus diários mostram que os estudantes estavam de bom humor; eles haviam até produzido seu próprio jornal – o Evening Otorten – uma forma tipicamente soviética de unir o grupo. No dia seguinte, eles planejavam continuar até a montanha, a apenas 10 quilômetros ao norte, antes de retornar ao acampamento base.
A BUSCA
O plano era o grupo retornar a Vizhai até 12 de Fevereiro, de onde Dyatlov iria enviar um telegrama ao clube de esportes do Instituto dizendo que tinham chegado com segurança. Ninguém ficou preocupado quando o telegrama não chegou como combinado – afinal, estes eram esquiadores experientes. Foi somente em 20 de fevereiro – quando os parentes preocupados dos estudantes começaram a reclamar – que o Instituto enviou uma equipe de busca e salvamento de professores e alunos, seguido pela polícia e exército, que enviou aviões e helicópteros.
Os voluntários encontraram o acampamento abandonado em 26 de Fevereiro. “Nós descobrimos que a tenda estava meio caída e coberta de neve. Estava vazio, e todos os pertences do grupo e sapatos tinham sido deixados para trás”, disse Mikhail Sharavin, o estudante voluntário que encontrou a barraca. Ela havia tinha sido cortada de dentro para fora, com um espaço grande o suficiente para uma pessoa passar. Pegadas foram encontradas na neve, deixadas por pessoas vestindo meias, valenki (botas de feltro macio) ou apenas um sapato, ou que estavam completamente descalças. As pegadas eram compatíveis com os membros do grupo, embora houvesse alguma dúvida se elas correspondiam a oito ou nove pessoas. Não havia nenhuma evidência de luta, ou de outras pessoas além dos esquiadores, e nenhum sinal dos próprios alunos.
As pegadas desciam a encosta em direção à floresta, mas desapareciam depois de 500m. Um quilômetro e meio depois da tenda, os dois primeiros corpos foram descobertos. Georgy Krivonischenko e Yury Doroshenko, descalços e vestidos apenas com suas roupas de baixo, foram encontrados na orla da floresta, sob um grande pinheiro. Suas mãos estavam queimadas, e ainda haviam os resto de uma fogueira ali perto. Os ramos da árvore estavam quebrados até 5m de altura, sugerindo que um esquiador tinha subido nela para procurar alguma coisa, e outros galhos quebrados estavam espalhados sobre a neve.
A 300m dali, jazia o corpo de Dyatlov, de costas, com o rosto olhando na direção do acampamento e com uma mão segurando um galho. A 180m na direção das barracas, os pesquisadores encontraram Rustem Slobodin, e 150m a partir dele estava Zina Kolmogorova; ambos parecendo que haviam usado suas últimas forças para tentar voltar ao acampamento.
Os médicos disseram que os cinco tinham morrido de hipotermia. Apenas Slobodin tinha outra lesão além da mãos queimadas: seu crânio estava fraturado, embora tenha sido comprovado que isso não foi a causa da morte.
Demorou dois meses para localizar os quatro esquiadores restantes. Seus corpos foram encontrados enterrados sob 4m de neve em uma ravina da floresta, a 75m de distância do pinheiro. Nicolas Thibeaux-Brignollel, Ludmila Dubinina, Alexander e Alexander Kolevatov Zolotaryov pareciam ter sofrido mortes traumáticas. O crânio de Thibeaux-Brignollel tinha sido esmagado, e Dubunina e Zolotarev estavam com as costelas quebradas. Dubinina também não tinha língua. Os corpos, no entanto, não mostravam nenhuma ferida externa.
Segundo o escritor Igor Sobolyov, que investigou as mortes, também parecia que alguns deles tinham pegado as roupas dos corpos dos que haviam morrido primeiro, em uma tentativa de se manterem aquecidos. Algumas das roupas tinham cortes como se tivessem sido retiradas à força. Zolotaryov estava usando o casaco de pele falso e o chapéu de Dubinina, enquanto o pé de Dubinina estava envolto em um pedaço da calça de lã de Krivonishenko. Thibeaux-Brignolle tinha dois relógios no pulso – um mostrava 08h14, e o outro 08h39.
Apesar das muitas perguntas sem resposta, a investigação foi encerrada no mesmo mês e os arquivos enviados para um arquivo secreto. Ainda mais misteriosamente, esquiadores e outros aventureiros foram impedidos de entrar na área pelos próximos três anos.